Ἡ Ψυχῆς Στοά
Entre colunas de mármore e luz, onde o vento murmura segredos aos deuses,
acordámos do sono do mito, mas não do engano.
Foi Sócrates, o ferreiro de almas, quem primeiro bateu no ferro da dúvida
— e escolheu a cicuta em vez da mentira. "Só sei que nada sei",
e nesse vazio, todos nós começámos a pensar.
Agora, na Ágora sem mármore, entre ecrãs que cintilam como falsos oráculos,
confundimos 'likes' com diálogo, 'posts' com verdade.
Platão avisara: somos prisioneiros da caverna.
Mas hoje, acorrentados a algoritmos,
já nem sombras vemos — só píxeis.
Aristóteles mediu o mundo com régua e lógica:
"A virtude está no meio."
Nós, porém, trocámos o equilíbrio por extremos,
a sabedoria por 'takes' inflamados,
e agora navegamos à deriva,
num mar de certezas vazias.
Os estoicos sussurravam: "Não controlas o vento, mas as velas."
E nós? Náufragos da ansiedade,
afogamo-nos em notificações,
enquanto a serenidade nos foge
como areia entre os dedos.
Epicuro queria jardins, amigos, pão e tempo.
Nós temos 'deliveries', 'followers' e 'deadlines'.
Chamamos-lhe liberdade.
Parménides jurou que o ser é imutável.
Heraclito riu-se: "Tudo flui."
A física moderna deu razão a ambos.
Mas nós, teimosos,
ainda queremos certezas estáticas
num mundo que é rio e pedra ao mesmo tempo.
Pitágoras ouvia a música das esferas.
Nós temos 'playlists' geradas por máquinas.
Dizemos que evoluímos.
Ó Grécia, berço deste pensar que ainda nos habita,
tua sabedoria é um espelho partido
— cada fragmento corta quem ousa pegar.
Inventaste a democracia e a demagogia,
a liberdade e a tirania.
Como nós, eras humana, demasiado humana.
E agora, no tempo da velocidade cega,
onde a informação não vira sabedoria,
onde temos mais dados que discernimento,
mais opiniões que pensamento,
restará alguém para voltar ao pórtico,
onde se ensinava a viver com menos?
Ou à Ágora, onde Sócrates perguntava:
"Vale a pena uma vida não examinada?"
E se a resposta for um silêncio,
que ecoa como a cicuta no vento?
